quinta-feira, 7 de maio de 2009

Vacina Contra Febre Amarela e Flash Back


Quem me conhece sabe....to sempre viajando (na estrada). Meu trabalho me proporciona (ou me obriga) a isso. Acontece que ainda não tinha tomado a vacina contraa Febre Amarela.
Hoje pela manha, quando estava chegando no escritório, meu colega indagou se eu já tinha me vacinado contra a febre Amarela. respondi que não. Então ele me informou que no HGePA (Hospital Geral de Porto Alegre - vulgo Hospital Militar), bem ao lado da nossa empresa, estavam vacinando. e o melhor, sem filas.
Corri pra lá....... ( e ai que entra o Flash Back). Servi no CPOR em Porto Alegre, como aluno da Infantaria (Turma I3), de 1979.(famoso Pé de Poeira). Acontece que nesse mesmo período contrai Hepatite, o que me levou numa sexta-feira de carnaval, a ingressar no HGePA. (daí o Flash Back).
Conforme ia subindo as escadas, o cheiro (o primeiro dos sentidos a fazer a gente lembrar de algo) se manifestou.
Nossa...... comecei a lembrar, ainda garoto, a apreensão de entrar em um hospital pela primeira vez. As árvores, a grama cortada, tudo em ordem (afinal o HGePA é uma unidade Militar). tudo como antes....
Lembrei depois da 8ª Enfermaria (lá no fundo, no isolamento), afinal Hepatite é uma doença contagiosa.
A Emfermaria imensa (24 camas pra ser exato), vazia. Escolhi a cama, e deitei.... (ninguém apareceu). Dei uma cochilada, e me acordei num grande susto. (não sabia que a 9ª era dos ¨loucos¨ - assim que chamavam na época). Estava rodeado por 4 ou 5 colegas de hospital (porém da 9ª). Putz..... lembro como se fosse hoje..... num salto, fiquei sentado na cama, joelhos recolhidos ao peito. Apreensão total.... conversas sem nexo, perguntas desencontradas. Foi um susto.
Depois mais tarde, apareceu outro ocupante da 8ª (kleber o nome dele......) Tinha tuberculose nos ganglios, mas fugia quase todos os dias pra dar bandas em Porto Alegre. (não lembro de que cidade era o Kleber).
O banheiro da enfermaria, putz..... era o fim (pra um cara que nunca tinha a hospital, nem pra visitar alguém).
Logo fiquei amigo dos enfermeiros, e do pessoal da cozinha auxiliar.
Meu pai, era a cara de um Tenente, e os dois tinham um fusquinha branco igualzinho. Isso proporcionou que meus pais fossem todos os dias me visitar.
Consegui com um amigo, um estoque de cigarros (ufa..... ficar lá trancado, e sem cigarros). É óbvio, que me roubaram no primeiro dia.
Na visita seguinte, um amigo levou mais cigarros e eu na fissura fumei um atras do outro. Foi ai que o pai e mãe ficaram sabendo que eu fumava.
Alguns dias depois, chegou outro colega para a 8ª (soldado Rocha do 18 RI). Ai encontrei um parceiro, porque o pessoal da 9ª era difícil de manter um dialogo. (e também pra não ficar louco).
o Rocha ficou mais amigo do pessoal da cozinha auxiliar (esqueci de dizer que tínhamos essa cozinha auxiliar, porque a 7ª era pra Tuberculose e outras doenças infecto-contagiosas).
O rocha, conseguiu uma copia da chave da cozinha auxiliar, e eu uma copia do banheiro dos dentistas (que vinham a cada 15 dias se bem me lembro).
Tudo resolvido então..... Minha mãe trazia um bolo por dia, o Rocha se encarregava da batida de frutas e nosso lanche tava garantido.
Depois fiz algumas tentativas de fuga, (pra dar aquela bandinha em Porto Alegre).
Resultado, entrei com a farda no hospital, e sai com uma mala com mais de 10 mudas de roupas (toda vez que dava uma saidinha, me retiravam as roupas civis e me devolviam o pijama, numerado).
Lembrei do pijama agora.... Era listrado, poído, bem velho, com o numero da enfermaria pintado atinta vermelha no peito. Confesso que me sentia um pouco como um Judeu em Auschwitz. Sei que meu desespero nunca sequer chegou perto do sofrimento de milhões de Judeus mortos. (mas para um jovem, com sensações tão extremadas, lembro que de alguma forma sentia aquilo).
Tomei a vacina, dei as costas mais uma vez para uma parte do meu passado.
Estou vivo por isso. Por ter claro em minha mente, diversos fragmentos do meu passado.
Do soldado Rocha, nunca mais tive noticias, mas sei que está vivo. ao menos nas minhas memorias.

Um comentário:

Unknown disse...

OLÁ THALES

SERVI NA TURMA I 3 DE INFANTARIA EM 1979. CPOR PA

ME LEMBRO QUE ALGÉM SAIU NO COMEÇO DO CURSO MAS NÃO ME LEMBRO DE VOCÊ.

PRAZER EM REVER UM AMIGO DA ÉPOCA
FELICIDADES