sexta-feira, 17 de setembro de 2010

EMERGÊNCIAS DE HOSPITAIS E A DEDICAÇÃO DE ALGUNS

Tenho um amigo que está muito doente.
O corre-corre atrás de hospitais tem sido uma constante nesses últimos 45 dias.
Temos encontrado de tudo. Hospitais sem a menor condição de ser chamados de hospitais (parecendo os
que vimos nos filmes e noticiários sobre países africanos). Pessoas sem a menor disposição ou paciência de cumprir suas tarefas. Até entendo, pois imagino a pressão psicológica que essas pessoas enfrentam, enfrentando diuturnamente a dor e o sofrimento de pacientes e parentes desesperados com seus entes queridos.
Mas encontramos também um esforço sobrenatural de pessoas obstinadas a serem mais humanas que o humano, que longe das condições mínimas para prestar um atendimento devido a esses pacientes e seus parentes (pelo excesso de pacientes, superlotação de emergências e falta de condições físicas e técnicas para esses atendimentos), mantém a calma e a humanidade para minimizar um pouco esse sofrimento.
Incrível como o sofrimento coletivo apesar de chocar é rapidamente absorvido por nossos processos mentais.
O sofrimento só toma proporção quando damos identidade a ele. Quando vinculamos uma vida com identidade, com o que fazia, o que sentia e todos aqueles que se envolvem direta e indiretamente a esse sofrimento.
Não fiquei mais chocado do que tenho ficado nesses últimos 45 ou 50 dias, porque conseguimos entrar na emergência do Hospital de Clínicas em Porto Alegre.
depois de mais de 24 horas numa cadeira de rodas, meu amigo (portador de AIDS, e num estagio bem avançado da doença, e muito debilitado), conseguiu uma promoção. Foi promovido a categoria ¨maca¨. E lá permanece a mais de 24 horas, dividindo um espaço onde os obstinado enfermeiros, médicos e parentes dividem um espaço infmio com um sem numero de macas. Para se movimentar dentro desse setor da emergência, é necessária a colaboração de todos, para mover as macas de um lado para o outro.
Confesso que sobre toda essa tristeza que me assola e me tira o sono a quase dois meses, um pequeno facho de luz brilha nessa escuridão que minha alma se encontra hoje.
A vitória de ter conseguido ingressar meu amigo na Emergência, e a felicidade de encontrar anónimos servidores da saúde (também com seu problemas, angustias normais a um ser humano), dedicados. alheios a todas impossibilidades, lutando por vidas e histórias que nem imaginam quais sejam. O pouco de informações que eles obtém, traçam um perfil de quem é aquele paciente.
Agradeço as Fridas (esse é o nome de uma dessas pessoas, e ao personalizar um individuo, quero dar a dimensão do altruísmo e abnegação de alguns deles), por ter me perguntado, quem eu era, a idade do meu amigo (que apesar do estado que se encontra, ainda parece muito mais jovem do que realmente é), o que tomava, o que usava, o que fazia.
Nesse momento a luz se faz mais forte, e diante de tanta iniquidade, parece que por um momento as coisas vão se resolver.
Mesmo que pareça um sonho, uma vontade incontida de que as coisas voltem ao estado normal, são dessas pílulas de esperança que nos acalmam por momentos.
muito obrigado Frida (sei que jamais vais ler esse texto, mas também não é para você que escrevo).
Meus textos aqui são desabafos, vão válvulas de escape.



Um comentário:

Anônimo disse...

...rezo todas as noites, para que ao final da minha caminhada, eu encontre uma Frida,sabedora da importãncia e o do valor que tem uma atenção ao próximo.